No momento em que a imigração torna-se assunto mundial com o ingresso maciço de refugiados africanos e médio-orientais na Europa e, simultaneamente, o Brasil também passa a receber imigrantes haitianos, senegaleses e sírios, para citar alguns, mais necessário ainda ingressarmos na temática étnico-racial nas salas de aula. As redes sociais evidenciam um clima de ódio carregado de preconceito e discriminação de toda ordem, numa escalada de orientação fascista e sectária de extrema direita. Talvez estejamos passando por uma catarse de segmentos da população brasileira outrora invisíveis sob o manto da democracia racial e que agora diante dos inegáveis avanços sociais e de afirmação dos direitos civis, questões de gênero e orientação sexual, deixam a hipocrisia de lado para revelar sua verdadeira natureza conservadora; a não aceitação do(a) outro(a) como igual. Essa proposta de trabalho interdisciplinar é sugerida no sentido de levantarmos algumas reflexões sobre a sociedade, a cultura e a cidadania nos dias de hoje. Na parte da Sociologia, algumas questões estão ligadas ao livro didático Sociologia Hoje, de Igor José R. Machado, Henrique Amorim e Celso R. Barros, do Ensino Médio.
Como dito em outros trabalhos sugeridos, o objetivo aqui não é a crítica do filme, mas a busca de elementos que possam colaborar com a atividade didático-pedagógica. Bom trabalho!
FILME:
EM MINHA TERRA
Langston Whitfield
(Samuel L. Jackson) é um jornalista negro norte-americano que é enviado pelo
Washington Times à África do Sul, em 1995. Seu objetivo é fazer a cobertura dos
depoimentos ouvidos na Comissão da Verdade e Reconciliação, que julga os
brutais crimes cometidos durante o período do apartheid. Ao longo das
audiências, vítimas e criminosos são colocados frente a frente. Langston toma
conhecimento de relatos violentos e cruéis, que desafiam sua imaginação e
despertam sua consciência.
PROPOSTA DE ATIVIDADE
Trailer:
Prólogo e epílogo
Prólogo e epílogo
Em 1994, o Apartheid Sul-africano finalmente chegou ao
fim. Buscando a reconciliação, o Presidente Nelson Mandela, e seus líderes
deram anistia àqueles que haviam cometido abusos de direitos humanos desde que
dissessem a verdade e pudessem provar que seguiam ordens. As vítimas poderiam
contar suas histórias e defrontar seus algozes. 21.800 vítimas testemunharam na
Comissão da Verdade e Reconciliação. Algumas de suas histórias são fielmente
retratadas no filme. 1.163 criminosos obtiveram anistia e foi iniciado processo
de cura das feridas do apartheid.
Questões sugeridas:
Com
foco no filme
1) Observando o filme, surge a expressão:
“Esta é a nova África do Sul, que você tanto admira Anna”. A que o personagem
estava se referindo?
2) Como os brancos reagiram ao roubo? Qual
o tratamento dado aos ladrões? Como justificam?
3) Há pouco, aqui no Brasil, repercutiu na
mídia o fato de um trem ser autorizado a passar sobre o corpo de um homem. Faça
uma reflexão crítica sobre o episódio e compare-o com o visto no filme.
4) “Não são mais a nossa polícia. Esse país
não é mais nosso. Está aberta a temporada de brancos agora.” Qual o significado
desta frase em sua opinião?
5) Estabeleça o conflito entre o pai de
Anna e sua posição.
6) Descreva a família, a origem de Anna.
7) “Chama isso de justiça? Dar liberdade a
criminosos e negar vingança às vítimas?” Observando o contexto, a anistia é
justa ou injusta? É possível a justiça da paz e da compaixão em sua opinião?
8) Explique como funciona a Comissão, no
seu entendimento?
9) "Onde estava Deus quando precisaram
dele?”. O que o jornalista questionou ao fazer esta pergunta? É possível
invocar a vontade de Deus em conflitos humanos? Posicione-se!
10) Do conjunto de histórias contadas na
Comissão, faça um comentário a respeito. Em sua opinião, as confissões eram
sinceras, ou seja, mostravam realmente algum arrependimento? Alguma lhe chamou
mais a atenção? Por quê?
11) Frequentemente é utilizada a palavra
terrorista para descrever os negros que lutavam contra o Regime. No contexto do
Apartheid, você concorda com essa definição? Explique!
12) Em mais de uma ocasião é citada no filme
a palavra ubuntu. Defina seu
significado e depois diga se concordas com a definição.
13) No amor e na guerra vale tudo? Aborde
essa questão de comportamento.
14) “Desde quando a brutalidade policial é
distante das vidas dos americanos? Como pode ser notícia quando os negros são
vítimas?”. Neste momento o jornalista está falando com seu editor nos Estados
Unidos. A que se refere? Você acompanhou pela mídia episódios de violência
policial contra negros nos EUA e a reação destes? Comente!
15) Ainda considerando a questão, no Brasil,
há questão similar? Explique!
16) Observando o filme, em certo momento, as
pessoas evitam falar certos assuntos políticos, como quando é questionado se o
estupro pode ser justificado politicamente, como forma de tortura para obter
informações. Você concorda com essa posição? Justifique! Por fim, você
compartilha do senso comum que estabelece que política e religião não se
discute? Por quê?
17) Dumisani, personagem do filme, se revela
ter sido um colaboracionista do regime. Confrontado, argumenta ter sido
coagido. Como você interpreta seus argumentos? Qual teria sido sua posição?
Condenação ou absolvição? Por quê? Você é o juiz!
História
1) Nas cenas de abertura, o que mais lhe
chamou a atenção? Por quê?
2) “Nunca, nunca, nunca mais acontecerá
desta terra vivenciar outra vez a opressão de uma pessoa pela outra”.
Estas
palavras ditas por Nelson Mandela estavam de acordo com as cenas passadas anteriormente?
Faça uma pequena biografia de Mandela e diga se essa liderança histórica já era
de seu conhecimento. Se sim, o que sabia e como essa informação chegou até
você.
3) O que é anistia?
4) O Brasil também possui uma Lei da
Anistia. Sobre o que trata?
5) Recentemente, nosso país também teve sua
Comissão da Verdade. Qual o seu objetivo? O que apurou?
6) Pesquise como se deu o processo de
colonização da África do Sul. Em sua opinião, ocupação ou invasão? Por quê?
7) No filme, o pai de Anna faz uma
referência à palavra africânders. Conceitue! Qual a relação com a Guerra dos
Boêres?
8) Mais adiante, a própria personagem Anna
faz nova referência à sua língua, o africâner, “a língua do meu coração”, diz
ela, e conclui: “Isso faz de mim o quê?”. Depois de pesquisar sobre a Guerra
dos Boêres e o processo de colonização, procure responder à reflexão de Anna,
considerando sua ancestralidade.
9) O personagem Dumi faz uma brincadeira no
bar do hotel, dizendo estar na companhia de Malcolm X. Você já ouviu falar
dele? Pesquise e diga quem foi e o que representou Malcolm X.
10) “Nós
nos sentamos naquela mesa quietos e aprendemos uma lição de história, da
história escondida de um passado vergonhoso”. Pesquise dois momentos da
História da África do Sul: o Massacre de Sharpeville e o Levante de Soweto.
Conte um pouco sobre estes episódios e explique a afirmação de Anna sobre o
passado vergonhoso.
11) Como o terrorismo se apresenta hoje no
mundo? Pode ser traduzido como uma forma de luta justa em nossa sociedade ou as
leis contra o terrorismo é só uma forma de legitimar a repressão?
12) No Brasil, durante a Ditadura Militar,
movimentos de esquerda pegaram em armas para lutar pela democracia. Na ocasião,
foram considerados terroristas, legitimando assim a repressão através da
prisão, tortura, morte e desaparecimento, por parte do Regime. Isso se
justifica em sua opinião? Qual sua posição sobre o atual Projeto de Lei antiterrorismo
aprovado recentemente no Brasil pela Câmara dos Deputados? Pesquise.
13) “Como
os nazistas diziam que seguir ordens os exonerava da culpa, os criminosos
sul-africanos também usavam a mesma defesa. Esta é a condição humana para que
os homens do mundo cometam atrocidades se a lei permitir?”. Desenvolva você
a resposta. Depois pesquise; quem eram os nazistas? O que foi o Julgamento de
Nuremberg?
14) “Sr.
Tabata sabia que ele morreria. Pediu para ser enterrado com a bandeira do
Congresso Nacional. Era um lutador e tanto. Eu disse sim.” O que era o
Congresso Nacional? Quais suas bandeiras? Quem eram suas lideranças?
Geografia
1) Elabore um mapa político do continente
africano. Localize o país África do Sul e pinte-o com uma cor diferente do
restante.
2) “Como pode haver reconciliação quando
90% da riqueza do país está nas mãos da minoria branca?”. Tente responder essa
questão levando em consideração aspectos como distribuição de renda, IDH e
outros indicadores socioeconômicos da África do Sul. O que mudou nestes últimos
vinte anos pós-apartheid?
3) “Temos uma longa estrada pela frente”.
Depois de responder a questão anterior e considerar o papel da Comissão, tente
explicar a que estrada se refere o reverendo.
4) Percorrendo os caminhos da Caravana com
atenção, que tipo de paisagem geográfica você observa? Procure fazer uma
descrição da vegetação, do relevo, do clima e depois pesquise, comparando se
suas observações estão de acordo com a pesquisa.
5) Observe a forma de vida dos negros
(habitações, bairros, etc). Em sua opinião, há alguma semelhança com uma
paisagem geográfica no Brasil? Qual? Que elementos lhe levaram a essa
conclusão?
Artes
1) Abaixo a reprodução de duas pinturas: O
Massacre de Sharpeville e Guernica. Compare-as, analisando as imagens. Depois
escreva sobre o que trata a obra Guernica, de Picasso.
Matemática
1) Como o torturador explica o Apartheid?
Qual o percentual de brancos em relação aos negros? Elabore um gráfico.
Literatura
1) A personagem que faz a mãe de Anna cita
Langston Hughes, autor negro.
“Acredite nos sonhos, “Por amor não
me arrependo
Pois
se os sonhos morrerem Embora
nunca mais volte”.
A vida será um pássaro sem asas
Que não pode voar.”
Pesquise
a respeito desse autor. Qual sua importância? Que outras obras?
2) Faça a interpretação do poema abaixo:
“Por sua causa
Este país não fica mais entre nós,
Mas dentro de nós
Respira tranquilo
Depois de ser ferido
Na sua bela garganta
Na minha cabeça
É cantoria, é fogo
Na minha língua
Por mil histórias
Eu fui queimada
Tenho uma nova pele
Mudei para sempre e quero dizer;
Perdoe-me, perdoe-me, perdoe-me.”
3) Pensamentos de personagens da história
sul-africana, podem se transformar em uma mensagem para reflexão. No final do
trabalho, distribua-os aos alunos e solicite para recitá-los, um por vez, e
interpretá-los. Alguns exemplos:
“Nascemos para manifestar a glória do Espírito
que está dentro de nós. E à medida que deixamos nossa luz brilhar, damos
permissão para os outros fazerem o mesmo. À medida que libertamos nosso medo,
nossa presença libera outros”.
Nelson Mandela
“Bravo não é quem diz não ter medo, é quem o
vence”.
Nelson Mandela
“A educação é a arma mais poderosa que você
pode usar para mudar o mundo”.
Nelson Mandela
“Sonho com o dia em que todos se levantarão e
compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”.
Nelson Mandela
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor
de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas
precisam aprender. E se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
Nelson Mandela
“O racismo e o capitalismo são duas faces da
mesma moeda”.
Steve Biko
“O racismo não implica apenas a exclusão de
uma raça por outra - ele sempre pressupõe que a exclusão se faz para fins de
dominação”.
Steve Biko
“A mais potente arma do opressor é a mente do
oprimido”.
Steve Biko
“Se você é neutro em situações de injustiça,
você escolhe o lado do opressor.”
Desmond Tutu
“Quando os missionários chegaram à África,
eles tinham a Bíblia e nós, a terra. Disseram-nos: Vamos rezar. Fechamos nossos
olhos. Quando os abrimos, nós é que estávamos com a Bíblia e eles com a terra.”
Desmond Tutu
Ciências
Naturais / Sociologia / História
1) Um depoente menciona seus antepassados.
“É sua forma de se colocar no decorrer do
tempo”, diz a personagem Anna. Você saberia relacionar seus antepassados?
Já fez sua árvore genealógica? Pesquise com sua família, consulte pais e/ou
avós, saiba mais sobre suas origens. Mãos à obra.
Música
/ História
1) Aspectos da cultura africana são
mostrados no filme. É possível sentir e descrever o ritmo de suas músicas? Qual
sua influência sobre nossas músicas? Como chegou aqui no Brasil?
Sociologia
/ Literatura / História / Geografia
1) Certamente você já ouviu a afirmação de
que o Brasil é uma democracia racial. O trabalho de Gilberto Freyre foi tão
importante que acabou se tornando uma “ideologia nacional”: uma ideia
compartilhada por muitos brasileiros desde a década de 1930. Entretanto, a
discriminação racial continua a existir. O que você acha disso? Como é possível
um país se ver como democracia racial e ainda conviver com a discriminação?
(livro:
Sociologia Hoje / Antropologia Brasileira / pág. 84)